A crescente demanda por data centers devido ao avanço da inteligência artificial está impulsionando a Europa a explorar opções espaciais para o armazenamento digital. O Projeto ASCEND, financiado pela União Europeia, investiga a viabilidade técnica, econômica e ambiental de lançar data centers em órbita. Esta iniciativa visa reduzir o consumo energético significativo desses centros na Terra, aproveitando a energia solar ilimitada disponível no espaço.
O Que é o Projeto ASCEND?
O Projeto ASCEND, que significa Advanced Space Cloud for European Net zero emission and Data sovereignty, é uma iniciativa da União Europeia que visa explorar a viabilidade de lançar data centers no espaço para atender à crescente demanda por armazenamento de dados, uma necessidade impulsionada pelo aumento exponencial da inteligência artificial. Coordenado pela Thales Alenia Space, em nome da Comissão Europeia, o estudo de 16 meses concluiu que os data centers espaciais são tecnicamente, economicamente e ambientalmente viáveis.
O projeto pretende utilizar energia solar ilimitada capturada no espaço para operar esses data centers, reduzindo assim a necessidade de instalações terrestres que consomem muita energia. O objetivo é começar a comercialização de serviços de nuvem a partir de 2036, com o lançamento de blocos de construção de data centers espaciais com capacidade total de 10 megawatts.
Além disso, o projeto ASCEND busca assegurar a soberania de dados para a Europa, oferecendo uma alternativa às infraestruturas atuais e promovendo uma abordagem inovadora para o gerenciamento de dados digitais no futuro.
Viabilidade Técnica e Econômica
O estudo ASCEND concluiu que lançar data centers em órbita é tecnicamente e economicamente viável. Segundo Damien Dumestier, coordenador do projeto, a ideia é aproveitar a energia solar
Consumo de Energia dos data centers
Os datacenters consomem uma quantidade significativa de eletricidade e água para o funcionamento e resfriamento dos servidores. De acordo com a International Energy Agency, o consumo global de eletricidade desses data centers pode ultrapassar 1.000 terawatts-hora em 2026, o que é comparável ao consumo anual de eletricidade do Japão.
O papel da inteligência artificial: A demanda por data centers está crescendo rapidamente devido ao aumento da digitalização e ao uso de inteligência artificial (IA). Data centers de IA requerem cerca de três vezes mais energia que os tradicionais, exacerbando o problema do consumo energético.
Abordagens inovadoras: Para lidar com esse alto consumo de energia, estudos como o ASCEND propõem o lançamento de instalações de armazenamento de dados no espaço, onde poderiam aproveitar a energia solar infinita e reduzir a carga energética dos data centers terrestres.
Benefícios dos Data Centers Espaciais
A implantação de Data Centers no espaço oferece vários benefícios significativos comparados aos terrestres. Primeiramente, esses Data Centers podem aproveitar a energia solar ilimitada e contínua, eliminando a necessidade por grande quantidade de eletricidade gerada a partir de fontes na Terra. Esse acesso constante a energia solar também reduz a dependência de energia não-renovável e contribui para iniciativas de sustentabilidade.
Além disso, os Data Centers espaciais ajudariam a aliviar a pressão sobre os recursos terrestres, como água e eletricidade, que são usados em grandes quantidades para resfriar os servidores. Isto é essencial, considerando que o consumo global de eletricidade dos Data Centers está projetado para ultrapassar 1.000 terawatts-hora em 2026, equivalente ao consumo total de eletricidade do Japão.
Outro benefício é a melhoria na eficiência e na continuidade do serviço. No espaço, os Data Centers estão livres de muitos problemas que afetam instalações terrestres, como condições meteorológicas adversas ou catástrofes naturais. Isso pode resultar em um serviço mais confiável e menos interrupções para serviços críticos.
Por fim, essa tecnologia permite a diversificação e a descentralização da infraestrutura digital global, o que é benéfico para a segurança e a integridade dos dados. A distribuição de centros de dados em diferentes órbitas espaciais dificulta ataques cibernéticos coordenados e garante maior resiliência em caso de falhas catastróficas em uma região específica.
Desafios e Soluções para Lançamento no Espaço
Para que o Projeto ASCEND consiga lançar centros de dados no espaço, são necessários avanços significativos na tecnologia de lançamento. Segundo o estudo, um dos maiores desafios é desenvolver um lançador eco-friendly que emita 10 vezes menos CO2 do que os lançadores atuais. A ArianeGroup, uma das 12 empresas participantes do projeto, está acelerando o desenvolvimento desses lançadores reutilizáveis e ecologicamente corretos.
Meta e Prazos: O objetivo é ter o primeiro lançador ecológico pronto até 2035, permitindo 15 anos de implantação para alcançar a enorme capacidade necessária para viabilizar o projeto. A implantação inicial em 2036, com blocos de construção de centros de dados espaciais, é vista como o ponto de partida para a comercialização de serviços em nuvem.
Combustível de Foguete: No entanto, há preocupações sobre a sustentabilidade a longo prazo devido ao consumo significativo de combustível de foguete. De acordo com Michael Winterson, diretor-gerente da European Data Centre Association, mesmo um pequeno centro de dados de 1 megawatt em órbita baixa exigiria cerca de 280.000 quilos de combustível de foguete por ano, a um custo de aproximadamente $140 milhões em 2030, isso ainda considerando uma redução significativa nos custos de lançamento que ainda não ocorreu.
Soluções e Alternativas: Para enfrentar esses desafios, o projeto ASCEND está explorando não só lançadores eco-friendly, mas também novas tecnologias que poderiam minimizar o uso de combustível e maximizar a eficiência energética dos centros de dados espaciais. Além disso, a ideia de utilizar a energia solar de maneira infinita no espaço, sem interrupções por padrões climáticos, é uma vantagem significativa que poderia justificar esses grandes investimentos.
Impacto Ambiental e Emissões de CO2
O Projeto ASCEND não só explora a viabilidade técnica e econômica dos centros de dados espaciais, mas também considera seriamente seu impacto ambiental. A iniciativa visa reduzir as emissões de CO2 através do uso de energia solar infinita no espaço. Isso aliviaria a pressão sobre as infraestruturas terrestres, que atualmente consomem uma quantidade significativa de eletricidade e água para manter os servidores refrigerados e funcionando.
Estima-se que o consumo global de eletricidade por centros de dados possa chegar a mais de 1.000 terawatts-hora em 2026, equivalente ao consumo de eletricidade do Japão, de acordo com a Agência Internacional de Energia. A migração de parte dessa demanda energética para o espaço poderia, portanto, representar uma redução substancial nas emissões de CO2.
No entanto, o estudo também destaca a necessidade do desenvolvimento de um novo tipo de lançador, que seja dez vezes menos emissivo para que se possa atingir uma redução significativa nas emissões de carbono. O objetivo é ter o primeiro lançador ecológico pronto até 2035, permitindo assim 15 anos de implantação para atingir a capacidade necessária para tornar o projeto viável.
Embora essa solução ofereça promessas consideráveis, é importante sublinhar que a criação de lançadores menos emissivos é crucial para o sucesso do projeto e para o objetivo de neutralidade de carbono da Europa até 2050.
Segurança e Riscos Políticos
A segurança e os riscos políticos constituem uma preocupação significativa no contexto dos centros de dados espaciais. À medida que o espaço se torna um campo cada vez mais politizado e militarizado, há um aumento nas possíveis ameaças aos dados armazenados em órbita. Diferentes países estão investindo em capacidades espaciais, não apenas para exploração e comunicação, mas também para fins militares. Isso levanta questões acerca da vulnerabilidade dos dados no espaço sideral.
Embora a eficiência energética e outras vantagens sejam consideráveis, a segurança dos dados em órbita ainda é uma preocupação. A possibilidade de ataques cibernéticos e sabotagem nos sistemas de propulsão e manutenção dos centros de dados deve ser cuidadosamente analisada. Além disso, a governança espacial e as políticas internacionais precisarão evoluir para lidar com a proteção e gestão de dados sensíveis fora do planeta.
A segurança dos dados no espaço exige uma abordagem multinacional e colaborativa, envolvendo alianças e regulamentações internacionais. O desenvolvimento de políticas eficazes para proteger os dados de deterioração física e ameaças de guerra cibernética será essencial para a viabilidade a longo prazo do projeto ASCEND.
No entanto, especialistas como Merima Dzanic alertam que, apesar dos benefícios, a segurança completa não pode ser garantida, dadas as complexidades e incertezas inerentes ao uso de espaço sideral para armazenamento de dados. Em suma, os riscos políticos e de segurança representam desafios significativos que precisam ser abordados para assegurar o sucesso dos centros de dados espaciais.
Futuro dos Centros de Dados no Espaço
O Projeto ASCEND, coordenado pela Thales Alenia Space em nome da Comissão Europeia, investigou a viabilidade de lançar centros de dados para a órbita terrestre. O estudo de 16 meses, com um custo de 2 milhões de euros (aproximadamente 2,1 milhões de dólares), concluiu que a ideia é tecnicamente e economicamente viável.